Still stunned for having watched yesterday the divine two hours and thirteen minutes of the "Dinastia Borgia: Iglesia y poder en El Renascimiento" concert by the groups led by Jordi Savall, "Hespèrion XXI" and "La Capella Reial de Catalunya," and one of the last performances of the greatest muse in the Early Music world, Montserrat Figueras, I received the news that Fado(Portuguese musical genre)was promoted to Cultural Heritage of Humanity by UNESCO.
Fado (English: "Fate") is a symbol of Portugal, a highly emotional form of music that captures the portuguese soul. Deep feelings, heart breakings, sadness and longing for someone who's gone, everyday events, the ups and downs of life, the eclipse of the overseas empire - are the more traditional themes of Fado in Lisbon. There's also the Fado of Coimbra and of Ribatejo.
The Fado is not sealed. It has mutated until it reached its most recognizable form, but is still susceptible to new influences. The type of music that originated it, probably emerged at the same time that Zyriâb founded the first music conservatory in Europe at Cordoba in the IXth century. (Http://lutetheinstrument.blogspot.com/2010/01/ziryab-key-figure-in-history-of-lute.html)
In Lisbon, the future capital of Portugal, music itself has always had its own characteristics, which an author once called "oceanic" as opposed to the then famous music centers such as Syria and Baghdad. Lisbon was conquered by the Christians in 1147 and the existing music was naturally absorbed and remained little changed until the middle of the XVth century. The instruments then lost some of its Moorish features and the percussion disappeared from this musical form. Other instruments started to be used, like the vihuela and zither, to meet the increasing complexity of polyphonic genres that were coming mainly from France. In the seventeenth century baroque guitar comes in, so popular it was that travelers used to say that even children played it in the streets.
At the same time that instruments were changing, the future Fado gained its particular characteristics through the intense traffic of portuguese sailors, travelers and adventurers through the docks and taverns of Lisbon, coming from and going to different corners of the Empire and the World. A musical genre is born, which persisted in using the zither, which was out of use in Europe, and that used the themes mentioned at the start of this article. From 1800 to 1840 Fado becomes the present Fado. The zither is renamed as the Portuguese guitar, the old baroque guitar is replaced by the classical guitar. It was, it is and it will always be the song of the people.
In the XXth century, Amalia Rodrigues, for many the voice of Portugal, has made known to the world this striking musical genre. At the end of that century, the group Madredeus and Fado singer Mariza took Fado music to even larger audiences. New stars are born singing over the River Tagus.
Personally, Fado is increasingly one of my main musical influences. I have been investigating its roots as a performer of early music, but I recommend the reader to search for other sources of information as well.
(Português)
Ainda atordoado de ter assistido ontem às divinais duas horas e treze minutos do Concerto “Dinastia Borgia: Iglesia y poder en El Renascimiento” dos agrupamentos dirigidos por Jordi Savall, “Hespèrion XXI” e La “Capella Reial de Catalunya”, numa das últimas apresentações da principal musa da música antiga mundial, Montserrat Figueras, recebi a notícia da UNESCO ter nomeado o Fado (gênero musical português) como patrimônio imaterial da Humanidade.
O fado é um símbolo de Portugal , uma forma de música extremamente emocional e que captura a alma portuguesa. Sentimentos profundos, decepções amorosas, a tristeza e saudade por alguém que foi embora, acontecimentos cotidianos, os altos e baixos da vida, o eclipse do Império ultramarino – são os temas mais tradicionais do Fado de Lisboa. Existem ainda o Fado de Coimbra e o Fado ribatejano.
O fado não é estanque. Sofreu mutações até chegar ao seu estado mais reconhecível, mas ainda continua permeável a novas influências. O tipo de música que o originou, despontou provavelmente na mesma altura em que Zyriâb fundava o primeiro conservatório musical da Europa em Córdoba, no Século IX. (http://lutetheinstrument.blogspot.com/2010/01/ziryab-key-figure-in-history-of-lute.html)
Em Lisboa, a futura capital de Portugal, a própria música sempre teve caracteristicas próprias, a que um autor uma vez chamou de “Oceânico”, por oposição aos centros de música então famosos como a Síria e Baghdad. Lisboa foi conquistada pelos cristãos em 1147 e a música já existente foi naturalmente absorvida e mantêve-se pouco alterada até meados do século XV. Os instrumentos perderam então algumas das suas caracteristicas mouriscas e a percussão desapareceu desta forma musical. Passaram a ser usados instrumentos da moda, como a vihuela e a cítara, para atender a crescente complexidade dos géneros polifónicos que vinham principalmente da França. No século XVII entra a guitarra barroca, tão popular que os viajantes falavam que até crianças a tocavam nas ruas.
Ao mesmo tempo que os instrumentos sofriam modificações, o futuro Fado ganha as suas caracteristicas particulares através do intenso tráfego de marinheiros, viajantes e aventureiros portugueses nas docas e tabernas de Lisboa, vindos de e indo para diferentes cantos do Império e do Mundo. Vai-se criando um género músical que teimava em usar a cítara, que estava em desuso na Europa, e que usava os temas citados no início do artigo como temas de canto. De 1800 a 1840 o Fado passa a ser o Fado actual. A cítara passa a ser a guitarra portuguesa, e a velha guitarra barroca já era posta de lado pela guitarra clássica (violão). Era, é, e sempre será a canção do povo.
No século XX, Amália Rodrigues, para muitos a voz de Portugal, deu a conhecer ao mundo este impactante género musical. No final do mesmo século, o grupo Madredeus e a fadista Mariza levaram o fado a audiências ainda maiores. Novas estrelas nascem cantando sobre o Rio Tejo.
Pessoalmente, o Fado é cada vez mais uma das minhas principais influências musicais, tenho vindo a investigar as suas raízes como intérprete de música antiga, mas recomendo ao leitor a procura de outras fontes de informação também.
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Um excelente texto de homenagem ao Fado e de congratulação pela distinção que a UNESCO lhe conferiu! Agora, vale mais a pena ouvir Amália e as novas vozes do Fado!
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